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Arminio ou Calvino

Estudo baseado em vídeo do Luís  Sayão

A Grande Discussão: Calvinismo ou Arminianismo

Uma grande discussão é: Calvinismo ou Arminianismo? Como debater esse assunto que tem gerado tanta discussão nos dias de hoje? Talvez para muitos a coisa tenha se complicado, transformando-se num conflito teológico. Temos John Calvin contra Jacobus Arminius, e parece que muitos, em vez de estudar e conhecer o assunto, entram em conflito. Vale a pena... Não sei se conseguem enxergar daí, mas vamos abordar alguns pontos dessa discussão.

Tradições e Teólogos

Dentro da tradição das igrejas da Reforma, temos a tradição Luterana, que em parte se alinha com os ensinamentos de Calvino, e a reação posterior de Arminius. Lutero, alemão, Calvino, francês, e Arminius, holandês, são teólogos renomados. As discussões sobre a salvação envolvem o arbítrio humano, a eleição, a justificação, a conversão e a preservação dos salvos, além da questão da apostasia.

A Visão Luterana

Na tradição Luterana, acreditava-se na depravação total e numa eleição parcialmente incondicional. Sempre enfatizaram a eleição para a salvação, a justificação de todos os que creem, consumada na morte de Cristo. A conversão está ligada à graça, confirmada pelos meios de graça, e é considerada resistível. A preservação afirma que é possível cair da graça, mas Deus garante a preservação do fiel.

Calvinismo vs. Arminianismo

Não vamos nos aprofundar nos detalhes da tradição Luterana, mas veremos as diferenças entre Calvino e Arminius. Calvino defendia a depravação total e a ausência do livre arbítrio, com todas as escolhas condicionadas pelo pecado. Arminius reconhecia a depravação, mas não negava o livre arbítrio. A eleição, para Calvino, é incondicional para a salvação e condenação. Arminius defendia a eleição condicional, baseada na previsão da fé ou incredulidade. Deus não escolhe, mas sabe quem crerá.

Justificação, Conversão e Perseverança

A justificação, para Calvino, é limitada aos eleitos para a salvação, conquistada pela morte de Cristo. Para Arminius, é possível a todos, mas se completa quando alguém escolhe crer. A conversão, para Calvino, é irresistível, uma ação divina. Para Arminius, é resistível e envolve o livre arbítrio. Calvino acreditava na perseverança garantida dos santos, enquanto Arminius defendia a conservação na fé mediante a perseverança, com a possibilidade de apostasia.

A Base da Discussão: O Pecado

Para entender essas diferentes visões, devemos discutir o pecado. A forma como entendemos o pecado influencia nossa visão teológica. Grudem define pecado como deixar de conformar-se à lei moral de Deus, uma falha em relação ao alvo, hamartia, seja em ato, atitude ou natureza. É a inconformidade com o que Deus determina. Diante do pecado, a questão é: o que a queda produziu? Quais as consequências do pecado original? Já mencionamos algo sobre isso anteriormente. Imaginamos que o pecado seja nossa ruptura com Deus, afetando nossa realidade.

A Visão Bíblica do Pecado

A visão bíblica é mais ampla. A queda é uma ruptura com Deus, como vemos em Adão e Eva se escondendo. É também uma ruptura com o próximo, como Caim matando Abel. É uma ruptura consigo mesmo, com o homem sentindo medo, culpa e vergonha. E é uma ruptura com a criação, com a terra amaldiçoada. Entendendo que o pecado é uma ruptura com Deus, com desdobramentos em todas as áreas, começamos a entender a redenção. Romanos afirma que a salvação é necessária, pois a condição humana é crítica, com o salário do pecado sendo a morte.

A Morte e suas Dimensões

A morte é a ruptura com Deus, o sofrimento decorrente desse distanciamento. Ela atinge toda a humanidade. Não sabemos como seria a vida sem a queda, mas a morte como a conhecemos não é a ideia original. Ela atinge o mundo animal e vegetal, sendo uma realidade material e espiritual. Apocalipse e 1 Coríntios falam da morte como o último inimigo a ser vencido. A vitória de Jesus sobre a morte mostra o poder da redenção.

Consequências do Pecado

As consequências do pecado incluem a morte física, espiritual e eterna. Jesus se referia aos seus opositores como espiritualmente mortos. Efésios 2 fala de estarmos mortos em delitos e pecados. A seriedade da perspectiva bíblica sobre o pecado é clara, diferente do que muitos pensam hoje.

A Ideologia de Rousseau

Muitos têm uma ideologia parecida com a de Rousseau, que acreditava que o meio é que prejudica. Mas o problema está dentro, não fora. As pessoas acreditam que mudar o sistema político muda o mundo, em vez de mudar as pessoas. Romanos 3:10-12 diz que não há justo, ninguém que busque a Deus, todos se desviaram. Desde Adão, estamos separados de Deus, espiritualmente mortos. Não há nada de bom em nós mesmos, no sentido de perfeito e puro. Nossos atos são maculados e imperfeitos.

Pecadores por Natureza

Somos pecadores por natureza. Assim como o pé de caju dá caju, o pé de gente dá pecado. Cometemos pecado porque somos pecadores, com inclinação para o mal. A tradição judaica chama essa inclinação de Yetzer Hara. As consequências do pecado são culpa, corrupção, fraqueza e incapacidade de fazer o bem.

Solidariedade Humana

Na Bíblia, há uma ideia de corpo e solidariedade. Estamos todos em Adão, e a culpa é herdada. Nossos atos envolvem a comunidade. Nosso primeiro pai falhou, e a família está envolvida. A corrupção também é herdada, com uma disposição para o pecado. As crianças aprendem o mal facilmente.

O Problema do Mal

O problema do mal envolve o fato de Deus, sendo bom, onipotente e onisciente, permitir o mal no mundo, tanto o sofrimento quanto a rebelião contra ele. É um mistério da fé. Deus permite o mal porque criou seres com liberdade. O mal é a negação do bem. Deus criou o ser humano com liberdade e arbítrio.

Soberania de Deus e Liberdade Humana

Deus é soberano e absoluto. A Bíblia tem uma visão teocêntrica do universo. Apesar dos limitadores, o homem é livre e responsável. Ele escolhe e é culpado por suas decisões. Foi criado à imagem de Deus e é capaz de escolhas. É chamado a crer no evangelho, mas também é visto como escravo do pecado, um morto-vivo. Não pode crer sem a graça de Deus, mas sofrerá as consequências da rejeição.

Deus e o Pecado

Deus é soberano, mas não é o autor do pecado. Ele não tenta ninguém e não pode ser tentado. Isaías 45:7 fala de Deus criando o mal, mas a palavra "mal" tem dois sentidos: pecado e sofrimento. Deus traz sofrimento, mas não é autor do pecado. Ele permite que seres se voltem contra ele, mas não é o autor. Criar o mal não significa pecar. Deus decreta que o mal surgirá e será usado para sua glória. Satanás é um espírito rebelde sob o controle de Deus.

O Ponto de Partida (23:42)

A soberania de Deus é o ponto de partida para a tradição calvinista. O problema está na relação entre a soberania de Deus e a liberdade humana. A Bíblia diz que o ser humano é livre e responsável, e Deus é soberano. Como entender isso?

As Perguntas Fundamentais

Algumas perguntas são importantes: Até onde a queda afeta o ser humano? Somos totalmente perversos ou parcialmente? Somos capazes de fazer o bem? Em que sentido? Temos livre arbítrio? Nossas escolhas são realmente livres? Deus escolhe alguém para a salvação? O que é eleição e predestinação? A graça pode ser resistida? Cristo morreu por todos ou só pelos eleitos? O que é salvação? Ela pode ser perdida? Quem produz a santificação?

Posições Teológicas na História

Pelágio, no século V, defendia que o homem é bom por natureza e que o pecado de Adão não afetou a vontade humana. Os pelagianos acreditam que o homem escolhe entre o bem e o mal. O homens só comete pecado só e somente só quando segue o exemplo do primeiro pecador, que é Adão. Alguns autores liberais e grande parte do judaísmo contemporâneo tem ideia parecida com este pensamento.

A Tradição Arminiana

A tradição Arminiana segue uma direção diferente. Ela afirma que o homem não é bom, mas sim decaído por natureza. A queda trouxe condenação para Adão, mas o pecado de Adão nos é imputado quando pecamos individualmente, concordando com ele.

A Vontade Humana

Na tradição Arminiana, não se tem uma ideia tão forte de que o pecado nos atinge por sermos descendentes de Adão, mas sim pela nossa concordância com ele. A disposição da vontade é corrompida, e o homem tem uma inclinação para o pecado, mas Deus concede graça preveniente para corrigir essa disposição. O homem, como Adão, é capaz de escolher entre o bem e o mal.

Diferenças entre Pelagianismo e Arminianismo

Essa visão difere do Pelagianismo, que acredita que o homem é praticamente inocente e neutro. O Arminianismo não pensa assim. O pensamento Católico, Metodista e Pentecostal geralmente se alinha com essa ideia.

O que o Arminianismo Sempre Defendeu

O Arminianismo sempre defendeu a importância do livre arbítrio, afirmando que todas as pessoas têm a capacidade de dizer sim ou não a partir de sua própria vontade. A eleição de Deus é sempre condicional, e Deus nunca elege alguém sem saber que essa pessoa será boa. A expiação foi estendida a todos, sendo universal. Alguns arminianos radicais até caminharam na direção do universalismo.

A Graça Divina

A graça de Deus pode ser resistida. Deus pode insistir, mas a pessoa pode dizer não. Deus não força ninguém. É possível cair da graça, e por isso a tradição Arminiana sempre desenvolveu igrejas que acreditam na perda da salvação.

Os Batistas e as Diferentes Opiniões

Os Batistas são um caso interessante, pois há diversas opiniões entre eles. Há Batistas muito arminianos e muito calvinistas. Segundo os arminianos, é possível cair da graça.

Agostinho e a Influência em Calvino

É interessante notar que a principal referência que influencia o pensamento de Calvino vem de Agostinho. Agostinho ensinava que o homem é decaído por natureza. Sua própria vida, talvez, o tenha ajudado a pensar dessa forma. A queda trouxe condenação e culpa a todos os homens. A disposição da vontade está totalmente corrompida e inclinada para o mal. O homem até tem um certo livre arbítrio, mas este é governado pela natureza pecaminosa. Ele até faz escolhas, mas a escolha sempre é para o lado errado. Ele sempre escolhe o caminho que não deve seguir. O homem peca por ser pecador.

O Pensamento de Agostinho e seus Seguidores

Agostinho, então, é a base desse pensamento que vai crescer na Reforma. Junto com ele, temos Anselmo, Lutero, Calvino e alguns conhecidos do nosso mundo hoje, como Jonathan Edwards, que são autores muito conhecidos, inclusive já traduzidos para o português.

O Calvinismo e o TULIP

A tradição calvinista desenvolveu o que é chamado de TULIP (um anagrama para uma palavra inglesa que significa tulipa). TULIP significa:

  • Total Depravity (Depravação Total): Pecaminosidade completa.

  • Unconditional Election (Eleição Incondicional): Deus escolhe por soberania e não pela aparência do indivíduo ou por qualquer atitude positiva dele.

  • Limited Atonement (Expiação Limitada): Só para os eleitos.

  • Irresistible Grace (Graça Irresistível): Ninguém que é alvo dessa graça de Deus consegue resisti-la.

  • Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos): A pessoa verdadeiramente salva vai perseverar até o fim.

Os Pontos do Calvinismo

A ideia, portanto, é que o homem é totalmente decaído. Todos herdaram o pecado de Adão. O homem possui uma natureza pecaminosa. O pecado original decorre da queda. O homem é incapaz de fazer o bem. A depravação total é o ponto de partida do Calvinismo. É a base que explica todo o restante.

Eleição Incondicional e Predestinação

A eleição incondicional, talvez a parte mais difícil para quem tem uma posição diferente, afirma que é impossível que o homem escolha a Deus, porque ele está totalmente depravado. Não tem como ele jamais querer a Deus se Deus não agir dentro dele antes. Deus escolhe arbitrariamente, ou melhor, soberanamente, no sentido em que Deus não escolhe porque ele sabe que o cara é bom, porque ninguém é bom. Essa é a maneira de pensar. O destino humano, nesse sentido, é predestinado. Deus escolhe alguns e não escolhe todos. Alguns são destinados à perdição.

Expiação Limitada e Graça Irresistível

Acredita-se, então, no que é chamado de expiação limitada. Jesus morreu apenas pelos eleitos. Do contrário, o sacrifício de Jesus seria ineficaz. O sacrifício de Cristo beneficiou apenas uns poucos, esses eleitos. A graça irresistível mostra que o Espírito Santo opera diretamente. O homem não tem escolha. O homem não pode resistir à ação do Espírito. Ele não pode nem entender o Evangelho se algo não acontecer lá dentro, sem a intervenção divina. Não pode haver salvação sem essa intervenção.

Perseverança dos Santos

A perseverança dos santos mostra que Deus tem controle total. A salvação nunca se perde. Uma vez salvo, salvo para sempre. Apostatar de fato é impossível. Mas como é que a Bíblia fala daqueles que uma vez foram iluminados e caíram? Como é que fica Judas Iscariotes? Como é que fica Demas, que abandonou Paulo? Qual é a resposta calvinista? Eles nunca foram convertidos de verdade.

 

As Três Visões: Pelagianismo, Arminianismo e Agostinianismo

Agora, prestem atenção nesses gráficos que são muito interessantes. Entendam bem para ficarem craques no assunto. Depois vai ter prova no final. Não sei se o pastor Zacar avisou, né? Só almoça quem conseguir resolver todas as perguntas da prova. Amém, irmãos? Quem foi escolhido? Vamos lá!

Pelagianismo

Na posição pelagiana, o pecado original de Adão, nem a culpa de Adão, nem a natureza decaída de Adão atingem ninguém. Eu estou livre e separado de Adão. Por que que eu tenho problema na minha vida? Só aquilo que eu escolhi de errado. Só existe o pecado individual de cada um. Por que que a história de Adão está lá? Só para mostrar para a gente o perigo da má escolha.

Clark Pinnock

Um pensador parecido, um teólogo americano recente chamado Clark Pinnock, pessoal da teologia relacional, amigo de um homem chamado John Sanders, tem um pensamento parecido. Nega a natureza decaída e a culpa, mas diz o seguinte: eu tenho um problema que é a minha depravação cultural.

Depravação Cultural

Como assim? Por exemplo, um menino nasce na Alemanha nazista em 1930. Quando ele está com 10 anos, ele é levado para aprender lá com a escola os conceitos nazistas e desenvolve um monte de prática. Ele nasce numa tribo que pratica canibalismo, cresce num ambiente onde as pessoas ensinam a matar gratuitamente. Ele cresceu e aprendeu assim. Isso é bom? Não, isso é mau, mas é uma depravação cultural. Aquele ambiente é que estragou o indivíduo.

Arminianismo Clássico

No Arminianismo clássico, a coisa muda. O Arminianismo vai concordar que a natureza decaída atinge a nós, mas a culpa de Adão não. Não tem essa ideia de que o erro de Adão me atinge do ponto de vista da culpa, não só a natureza. Por isso, existe uma ideia diferente daquilo que a gente vê na tradição de Agostinho e de Calvino, onde você, calado, já está errado. A natureza decaída e a culpa atingiram você.

A Visão de Pelágio

Para a gente entender isso, olha só a compreensão disso. Como é que Pelágio pensava? Presta atenção no gráfico aqui que ele é bastante interessante. Vamos ver se a gente consegue aqui. Olha lá, antes da queda, depois que caiu, redimido e glorificado na vida eterna. Para Pelágio, antes da queda, Adão podia escolher entre o bem e o mal. Caiu. Como é que a gente está hoje? Do mesmo jeito. Você pode escolher entre o bem e o mal. Não tem muita diferença, porque hoje, segundo Pelágio, eu posso não pecar. Quando eu creio em Cristo, me torno cristão. Qual é a diferença? Nenhuma. Eu continuo sendo alguém que pode não pecar.

As Escolhas Segundo Pelágio

Então, presta atenção. Antes da queda, depois da queda e depois de redimido, não houve nenhuma mudança. Você, na prática, continua fazendo as mesmas coisas. Glorificado, depois de salvo, aí sim você não poderá mais pecar. Só na vida eterna você pode escolher entre o bem e o bem, porque agora você foi salvo completamente.

A Visão Arminiana

Na visão Arminiana, a coisa já muda. Antes da queda, eu posso não pecar. Adão podia escolher. Depois da queda, aí a coisa é diferente. Eu posso não pecar, mas com uma limitação muito grande, porque existe o mal que está em mim, na minha natureza e diante de mim. Eu tenho o mal e o bem. Eu posso, dentro da minha natureza caída, tomar decisões melhores. Quando me converto e tenho uma nova natureza, aí sim eu posso não pecar de maneira mais clara. E somente na vida eterna é que eu tenho a escolha diferente.

A Visão Agostiniana

Na visão agostiniana, que vai ser a visão que vai influenciar o pensamento calvinista, qual é a diferença? Eu não posso não pecar no momento de hoje. Qualquer coisa que eu faça, de alguma maneira está maculada, prejudicada. Eu vou fazer uma oração na igreja, mas é só para mostrar para os outros. Eu vou dar uma oferta, mas é para as pessoas baterem palma e acharem que eu sou lindo e maravilhoso. Todas as minhas atitudes sempre têm cinco pontos de interrogação. Amém, irmãos? Quem foi abençoado, levante a mão. Vamos lá. Redimido, aí eu posso não pecar agora com a nova natureza. Pelo Espírito Santo, eu posso fazer o bem segundo Deus. E só na vida eterna é que a escolha está definida.

 

Como Lidar com a Confusão Teológica

Como é que a gente resolve essa confusão toda? Como é que a gente lida com esse assunto? É importante, porque o meio evangélico está confuso e brigando sobre ele.

O Problema da Polarização

Primeiro, existe um problema nas duas posições. Qual é o problema? A gente chama de polarização do testemunho bíblico. O grupo que defende a soberania de Deus, o que é que faz? Só escolhe os textos da soberania de Deus, e os outros esconde, ou então diz: "Não, esse aí é um texto difícil". Qual que é o texto difícil? O que vai contra a minha ideia. Os outros que defendem a liberdade humana, eles escondem os textos que defendem a soberania de Deus. E aí você acaba tendo uma polarização ou um selecionamento, vamos dizer, indevido dos textos.

O Modelo Lógico Condutor

Depois, o modelo lógico condutor da teologia. Qual é o nosso jeito de pensar? É um jeito de pensar que nem sempre é o jeito da Bíblia. Como é que a gente entende isso? Por exemplo, às vezes tem pessoas que pegam caixas e querem guardar fruta nessas caixas. Eu já vi o pessoal pegar a caixa de fruta e querer guardar lá dentro murici, cajá. Aí cai tudo, porque a fruta é pequena, né? Ficam os buracos lá embaixo, metade da caixa, porque a fruta não cabe na caixa. Mas a pessoa quer pôr na caixa. Ou então ele pega uma jaca, uma melancia, põe na caixa e quebra a caixa. E tem gente que faz a mesma coisa. Ele tem um jeito de pensar que a palavra de Deus tem que entrar, cabendo ou não cabendo.

Exemplos de "Caixas Teológicas"

Então, por exemplo, quem é Jesus? Ele é divino ou é humano? Ele é divino e humano. A Bíblia é palavra humana ou palavra divina? Ela é palavra humana, a linguagem que está lá não é linguagem dos anjos, é grego, hebraico, aramaico, e é palavra divina. Deus é um ou é três? É um só ser em três pessoas. Por quê? Porque o pensamento bíblico mantém o que a gente chama de tensões.

Tensão vs. Contradição

Por exemplo, a santidade de Deus não é o contrário do seu amor. Ah, não, se Deus é bondoso e amoroso, ele não vai condenar ninguém. Ah, se Deus é santo, ele vai arrebentar todo mundo. Porque, na verdade, as coisas não estão em contradição, elas são um contraponto. Ser contraponto é diferente de ser contradição. Por isso, na Bíblia, o jeito de pensar é diferente. O jeito de pensar da Bíblia parece a geleia de pimenta da Cabana do Sol. É doce e apimentado ao mesmo tempo. Quer dizer que Deus é soberano e o ser humano é responsável e livre ao mesmo tempo.

O Perigo das "Caixas Teológicas"

Então, o modelo lógico condutor de muita gente é uma camisa de força, é uma caixa onde não cabe a melancia. Toda vez que põe, quebra. Aí quando quebra a caixa, o sujeito vai quebrar a cabeça do outro. Por isso, os textos e teologias na Bíblia apresentam ênfase diferente.

Ênfase em Diferentes Livros da Bíblia

Por exemplo, Hebreus enfatiza muito o quê? A responsabilidade humana. Olha, se vocês abandonam a Cristo e voltam atrás, eu vou dizer para vocês que o prejuízo é grande. Vocês lembram o que aconteceu no passado? Vocês sabem que Esaú buscou arrependimento e não conseguiu. A ideia de Hebreus não é: "Ah, não, a pessoa pode ficar do jeito que está, porque se Deus escolheu, ele vai dar tudo certo". Hebreus enfatiza a responsabilidade humana. Já o livro de Romanos enfatiza muito o quê? A soberania de Deus. "Não depende de quem quer ou de quem corre, mas de Deus usar a sua misericórdia". Os textos de Efésios também enfatizam a soberania de Deus. O Evangelho de João enfatiza os dois: "Não foram vocês que me escolheram, mas eu os escolhi para que vocês possam ir e dar fruto". Mas a vara, os ramos que permanecem em mim, esses dão muito fruto. Existe uma ênfase nas duas realidades.

Ênfase no Antigo Testamento

No Antigo Testamento, a gente vai ver também que existe ênfase na ação soberana de Deus e ênfase na responsabilidade humana. Quer ver uma coisa interessante? A Bíblia diz que quem endureceu o coração do Faraó? Deus endureceu. Versículos abaixo diz o quê? Que o Faraó endureceu o seu próprio coração. Quando você crê em Jesus, o que foi que aconteceu? Foi você que abriu o coração ou foi o Espírito Santo que convenceu você? Foram os dois. Você não se converteu automaticamente.

O Perigo do Exagero

Qual que é o perigo quando a pessoa exagera na direção da soberania divina unicamente? Ele pode cair no fatalismo. "Se eu sou assim é porque Deus quer". Eu conheci gente que vivia uma vida... Falava: "Olha, não cai uma folha da árvore sem a vontade de Deus. Então, se eu estou usando cocaína é porque Deus de alguma maneira tem algum plano nisso". Eu encontrei um indivíduo fora da igreja, vivendo uma vida totalmente errada. Aí eu perguntei para ele: "Mas você não acha que você deveria voltar para o Senhor agora?". Falou: "Não, não posso voltar. Só quando Deus determinar. Só quando Deus me tocar é que eu volto". Eu falei: "Eu acho que você tem que se tocar, viu? Porque o negócio não é bem assim". Determinismo, fatalismo.

O Perigo da Exclusão da Soberania Divina

Do outro lado, quando a soberania de Deus é excluída, existe só decisão humana e liberdade humana, a tendência é cair no humanismo e universalismo. É como se Deus não determinasse nada, Deus nem fosse o Deus da Bíblia. E a tendência é ir na direção errada.

Problemas do Determinismo

Quais são os problemas sérios? Se é verdade que eu determino tudo, quer dizer que eu tenho a vontade absoluta do universo. Deus me orienta, o diabo me tenta, mas quem decide sou eu. Eu sou o rei do pedaço? Será que é assim? Eu me salvo no final das contas porque eu fui fiel, eu permaneci? Eu fiz. Por isso que é muito comum esse famoso crente "santarrão", né, que acha que ele é o rei da cocada preta assim na igreja. Ele põe uma banca, porque ele acredita na justiça própria. E nunca estarei seguro, porque se eu vou perder a salvação, perco quando? Quando eu fico nervoso no trânsito, quando o sujeito me fecha. E aí ela volta quando? Quando baixa o calor? Como é que funciona? Por isso que quem pensa assim quase sempre cai no legalismo.

Problemas do Calvinismo

Se eu determino as coisas, Deus não é soberano e nem recebe glória. Na prática, eu sigo um enfoque humanista e dá a impressão que eu sou moralmente neutro, que eu simplesmente tomo essa posição a partir de mim mesmo. Problemas dos calvinistas: se Deus determina tudo e o ser humano não participa, será que Deus pode ser considerado injusto? Deus tem um favoritismo? Escolhe a pessoa assim do nada? Será que tem gente que quer ir para o céu, bate na porta, pede para entrar, Deus diz: "Não, você não está na lista, tchau, vai embora"? É assim? Não pode ser. Será que se for um determinismo, será que eu não tenho escolha nenhuma?

Ultra Calvinismo

Eu conheci gente que falava assim: "Ó, se eu tiver que ir um dia, Deus vai me levar, porque ele é que decide". Se é verdade, como muitos influenciados por um ultra calvinismo fizeram, não é necessário nem pregar o Evangelho. Quando William Carey quis começar o seu movimento missionário, o pastor da sua igreja falou assim: "Ó, quando Deus quiser salvar os pagãos, ele vai fazer isso, não vai precisar de um indivíduo como você", que, aliás, na época era sapateiro. Eu não preciso me santificar, porque eu vou estar lá, eu já estou classificado. Eu jogo pelo empate, eu vou para o céu mesmo. Vou segurar o 0 a 0. Vou esperar o apito final. Será que alguém pode ser condenado, já que Deus decide tudo? E se é verdade que ninguém corre perigo nenhum, por que tantas vezes o Novo Testamento diz: "Cuidado, vigiai, prestai atenção"? Se tem tanta advertência, será verdade que não existe perigo nenhum?

 

O Problema do Modelo Teológico

Então, como é que a gente pensa sobre isso? Problema do modelo teológico. Vamos ver lá aquilo que a gente mencionou um pouquinho. Quando a gente estuda a Bíblia e os assuntos teológicos, é muito importante entender que o estudo da teologia tem três áreas principais. E o problema de muita gente é ficar em uma, em nenhuma delas.

As Três Áreas da Teologia

Por exemplo, a teologia chamada catafática é a teologia preocupada com doutrina. Ensina como pensar sobre Deus e coloca Deus numa caixa. É a teologia sistemática tradicional. "Ó, Deus é assim, seus atributos, a obra de Cristo". Isso é bom, é importante, mas tem os seus limites.

Teologia Pietista e Apofática

A outra ideia de teologia que aparece é a teologia pietista devocional, a vida diária com o Senhor, a oração, a dedicação. Interpreta Deus através da experiência. Vocês já descobriram, né, que tem muita igreja que só tem experiência e tem outra que só tem estudo racional. E existe o que a gente chama de teologia apofática, que enfatiza o mistério. Ou seja, não afirma uma série de coisas sobre as quais a gente não sabe direito.

O Mistério da Fé

Uma coisa que é misteriosa não é irracional, ela é além da razão, ela é admirável. É como uma criança contemplando seu pai, sua mãe, falando coisas que ela não consegue acompanhar. Então, qual que é o problema? O problema é quando a gente pega alguns aspectos que têm a ver com o mistério da fé e quer transformar numa explicação doutrinária.

A Dialética do Pensamento Bíblico

Por isso, o pensamento bíblico é marcado por bastante dialética, onde tese, antítese e síntese formam a realidade do pensamento que é ensinado na escritura. O que que a gente precisa entender? É necessário, nesse assunto, manter uma posição de equilíbrio. Toda vez que você quiser praticar a teologia do "Saci pererê", que é a teologia de uma perna só, ficar só com um lado, você vai se dar mal. "Pererê" não bate nem escanteio, você sabe que é complicada a situação dele.

A Importância do Equilíbrio Teológico

O que que a gente tem que entender? Não dá para abrir mão do conceito bíblico sobre a soberania de Deus. Isso é mudar o próprio conceito de Deus. Eu conheço gente tão arminiana que eles, de fato, chegam ao ponto de dizer que Deus quase que se aposentou, ele não faz mais nada. Não dá para abrir mão de que a salvação é pela fé e pela graça. Amém, irmãos? Senão a pessoa se salva a si mesmo. Não dá para abrir mão da responsabilidade humana. Não dá para você cair num fatalismo. Eu conheci um sujeito que dizia: "Vamos orar". "Olha, orar não faz nada, é um jeito de submeter debaixo da soberania de Deus, porque Deus nunca vai mudar nada por qualquer atitude humana". Nunca vi isso em nenhum texto bíblico. E não dá para abrir mão da segurança da salvação em Cristo.

Como Lidar com a Bíblia

O que que a gente deve fazer? Como é que eu lido com a Bíblia? Eu preciso ler o texto bíblico que eu vou ensinar, que eu vou pregar, que eu vou aprender, fazer exegese e respeitar o texto. Como assim, pastor? Simples. Se eu vou ler Hebreus, não pregue Calvino em Hebreus, pregue Hebreus. O livro foi escrito para produzir advertência e não teologia do século XVI. Se eu vou ler Romanos 11, não pregue o Wesley em Romanos 11, o texto foi escrito com outro objetivo. Respeite a Bíblia, não contrabandeie teologia específica para dentro de um texto. Fale o que o texto está dizendo.

A Complexidade da Teologia

Ah, mas a pessoa vai ter problema. Amém. Quanto mais problema as pessoas tiverem, mais sérias elas vão se tornar, procurando conhecer e se aprofundar na palavra de Deus. A mensagem de Deus não existe para ser um Dorflex espiritual para as pessoas saírem da igreja "Tô calmo agora, tô feliz, né?". Não é para a pessoa entender. Permite a atenção dialética. A teologia bíblica aceita que duas ideias aparentemente diferentes têm que conviver numa relação chamada dialética. O texto bíblico não pode ficar preso a caixas. É aquela coisa difícil que a pessoa é tão presa numa caixa que ele lê o texto e prega o que ele sempre pensou. Então, para que o texto e entenda que a questão envolve aquilo que vai além da nossa razão.

A Perspectiva Bíblica

Numa perspectiva bíblica, a gente precisa manter a tensão entre certas ideias, não resolver tudo racionalmente, que a gente não vai conseguir. Entender a função do texto que foi escrito e obedecer a recomendação dele. Se o texto foi escrito para fazer as pessoas orarem, é para fazer as pessoas orarem. Se ele for escrito para a gente fazer missões, é para fazer missões.

Humildade e Obediência

Entender a complexidade de certos temas. Você não vai resolver tudo, porque você não sabe, ponto final. Não adianta ficar procurando chifre em cabeça de cavalo, porque você é limitado. Descobrir o que é fundamental no texto e escutar o texto e jamais forçar o texto a dizer aquilo que ele não quis dizer. Como é que a gente termina, depois de entender todo esse cenário? Qual é o valor prático disso? Nós podemos e devemos respeitar o que é sagrado nas escrituras, aquilo que é palavra divina e a sabedoria de Deus para nós. Nós precisamos entender que é uma coisa muito valiosa deslocar essa questão para a vida prática.

Unidade e Tolerância

Porque veja bem, por exemplo, às vezes a pessoa estuda escatologia com que finalidade? De descobrir o RG do anticristo para saber que time ele torce. Eu tenho algumas sugestões depois, eu posso falar pessoalmente para alguns, né? Mas o objetivo da Bíblia falar de escatologia é o quê? Produzir vida piedosa nas pessoas que seguem a Jesus. Então, às vezes a pessoa faz um estudo com foco diferente. Isso tem que ser deslocado para a vida. Valorizar a unidade do corpo. O que quer dizer isso? É muito complicado quando o povo de Deus começa a brigar por coisa menos importante, a se dividir por questões secundárias. É necessário ter maior tolerância. A gente precisa ser unido naquilo que é essencial e tolerante naquilo que é secundário. Se uma pessoa tem uma visão diferente sobre um tema secundário, amém. A gente conversa, discute isso de maneira amadurecida e respeita o jeito diferente de pensar.

Crescer em Humildade

Crescer em humildade diante da amplitude daquilo que envolve o conhecimento de Deus e sempre estar preocupado não em ter a razão talvez absoluta, não de achar que entendeu completamente do assunto, mas glorificar a Deus e ser obediente à sua vontade. Deus abençoe a nossa vida e que ele encaminhe a sua vida na direção certa e que você escolha o caminho que ele tem para nós. Amém. Deus nos abençoe. Louvado seja Deus nesta manhã.

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